SERÁ MESMO?
Só elas podem fazer Lula avançar
Cláudio Mota*
Toda vez que a situação caminhou para a possibilidade de vitória da extrema-direita, a esquerda constituiu frentes amplas, envolvendo outras forças do campo democrático e diversos setores da sociedade. Em nossa história recente, isso garantiu a vitória de Lula – muito apertada! – contra o novo fascismo. Essa frente se deu em torno, seguramente, da maior figura política brasileira, originária das lutas populares e dos trabalhadores.
Lula teve a capacidade política de entender o momento, consolidar o campo da esquerda, ir além dele e do PT e formar um amplo leque de alianças, sem o qual não venceria. A vitória foi, acima de tudo, coletiva. Envolveu partidos, setores democráticos, movimento sindical e movimentos sociais diversos (juventude, mulheres, luta antirracista, ambientalistas e população LGBTQIAPN+, entre outros).
Também enxergou a importância dessa frente ir além das eleições. Pediu aos movimentos que atuassem para reverter uma situação adversa no Congresso Nacional (onde se aprova as políticas mais importantes de um governo). Deu a senha das prioridades várias vezes: lutar contra os juros altos, combater à fome, união com governadores e prefeitos para retomar obras paralisadas.
GOVERNABILIDADE NA ADVERSIDADE
Além da vitória apertada em um País polarizado, o presidente está governando sem maioria na Câmara Federal e no Senado. É preciso perguntar: Como conseguiu aprovar medidas importantes e impactantes propostas pelo seu governo? Aqui entra um tema essencial na luta política: a governabilidade. Se tem maioria no Congresso Nacional, tudo fica mais tranquilo. Mesmo assim, tem que fazer concessões para que partidos votem nos projetos do governo e não desestabilizem a base. Se está em minoria, precisa fazer ainda mais concessões para não se isolar politicamente e fazer a economia reagir.
Como não ceder a partidos que fazem parte do Centrão e manter a governabilidade? No Congresso, vale-se de jogo de cintura e construção de maioria, que raramente é sólida e exige, em muitos momentos, entregar anéis para não perder dedos (mudanças de ministros, liberar emendas condicionando a votação que interessa ao governo, principalmente se for para melhorar a vida do povo, por exemplo).
O governo Lula fez muito em 10 meses: retomou o protagonismo global do Brasil; assinou acordos comerciais importantes; assumiu a Presidência do Banco de Desenvolvimento dos BRICS; pautou a luta paz e contra a fome; lidera a agenda ambiental; política de valorização do salário mínimo; retomada da integração latino-americana e fortalecimento do Mercosul, da UNASUL e da CELAC. Além disso, a inflação está controlada, o nível de emprego está crescendo e as projeções de crescimento do PIB melhoraram.
SÓ ELAS PODEM AJUDAR
A outra ação que ajuda a avançar um governo desta natureza (de base popular, mas que precisou se ampliar) é ter apoio e pressão popular para produzir dois movimentos: impedir que forças conservadores na base não barrem as mudanças e fortalecer o governo para avançar em políticas estruturais. Governabilidade é crucial para o futuro governo Lula. E só pode ser garantida não se isolando politicamente e com ações para economia crescer (gerando emprego e renda), fortalecendo os setores produtivos e acalmando as elites econômicas.
Por isso, Lula precisa delas ativas, assim como o País: a FRENTE BRASIL POPULAR (FBP) e a FRENTE POVO SEM MEDO (FPSM). A primeira foi constituída para ajudar o governo Dilma Rousseff a enfrentar os ataques da oposição e movimentos de direita nas ruas. A segunda buscou rearticular os movimentos sociais de esquerda e foi convocada, justamente, por entidade como o MTST, MST, CTB, CUT, Intersindical, UNE, Ubes, UJS, UBM, ANPG, Unegro, Igreja Povo de Deus em Movimento (IPDM) e Mídia Ninja, entre tantas outras.
Essa amplitude representa a frente ampla na sociedade. As duas frentes foram importantes no período recente do país. Esse papel seria difícil para as centrais sindicais ou outras entidades, pois passariam a ideia de que estariam fazendo lutas para o governo atender a seus públicos específicos. É preciso passar o simbolismo de que as lutas são para fazer o governo beneficiar amplos setores, especialmente os que mais precisam.
A FBP e a FPSM podem aglutinar todos os movimentos e atrair os setores médios da sociedade para ajudar o governo Lula na reconstrução do País. Podem ajudar a melhorar a correlação de forças a nosso favor, nas ruas, nas redes e no Congresso Nacional. Reativa-las é tarefa urgente dos partidos de esquerda, do movimento sindical e dos movimentos sociais. Só elas podem fazer Lula avançar as mudanças que o novo Brasil precisa.
* Jornalista, publicitário, assessor de comunicação e ex-dirigente dos Comerciários de Salvador, PCdoB Bahia e PCdoB Salvador.
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